Nesse texto, Marx analisa a conjuntura política de uma formação econômico-social capitalista específica, a francesa, do período das revoluções de 1848 até o golpe de Luís Bonaparte, utilizando o instrumental teórico da ciência da história, que ele e Engels inauguraram, o “materialismo histórico”, criando, assim, a possibilidade do conhecimento científico das sociedades.
Nesse sentido, este trabalho, juntamente com “As lutas de classes na França de 1848 a 1850”, é pioneiro na análise de uma realidade concreta, dos acontecimentos e disputas políticas, do “jogo político”, a partir do ponto de vista teórico do proletariado, a partir da posição do proletariado na luta de classes, analisando os interesses econômicos das classes e das frações de classe que disputam o poder político.
Como afirma Engels, no prefácio à terceira edição alemã de “O 18 Brumário”: “Foi precisamente Marx quem primeiro descobriu a grande lei do movimento da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se desenvolvam no terreno político, no religioso, no filosófico ou noutro terreno ideológico qualquer, não são, na realidade, mais do que a expressão mais ou menos clara de lutas de classes sociais...”
Assim, este livro, que completa 133 anos, se inscreve no esforço teórico dos revolucionários de identificar os interesses de classe em disputa no “teatro” político. Ou seja, tentar compreender as disputas entre Partidos, tendências, personalidades políticas, burguesas e pequeno-burguesas, já com a presença do proletariado como força política autônoma. Disputas que se expressam na “superfície”, no jogo das aparências, e que cumprem o papel de esconder, diluir, os reais interesses de classe. Interesses que, no fundamental, se dão na esfera “econômica”. Mas ao cumprirem esta “função”, de esconder os interesses de classe, fazem parte e interferem na conjuntura, no desenvolvimento da luta de classes e, no fundamental, a serviço dos objetivos das classes dominantes exploradoras.
Estas manifestações e representações políticas das classes, frações de classe e os indivíduos (enquanto membros de determinada classe) têm como base a produção, as relações de produção, que são relações de exploração, de luta de classes de uma determinada sociedade, nesse caso, capitalista. Tenham elas consciência ou não deste papel ideológico e político que cumprem.
Um outro aspecto a ser destacado no “18 Brumário”, que revela a profundidade do compromisso de Marx com os interesses estratégicos do proletariado, fica evidente quando ele vislumbra na insurreição proletária de junho de 1848, “sufocada e derrotada”, o “... ponto de partida revolucionário, isto é, a situação, as relações, as condições sem as quais a revolução moderna não adquire um caráter sério.”
Vislumbra e aponta o início da época das revoluções proletárias, mesmo analisando que “escarnecem com impiedosa consciência as deficiências, fraquezas e misérias dos seus primeiros esforços”. Eis o Marx científico e revolucionário, a analisar a conjuntura, em determinado momento histórico, em uma determinda correlação de forças, em determinado estágio da luta de classes, com o objetivo de enriquecer e desenvolver a teoria do proletariado, que se desenvolvia e amadurecia neste período (da experiência do proletariado nas jornadas de junho de 1848 e em todo o processo até o golpe de dezembro de 1851), como arma transformadora da realidade.
Procuramos organizar a leitura, estudo e discussão do livro “O 18 Brumário” para avançar na assimilação do método de análise de Marx, da teoria marxista, do materialismo dialético e do materialismo histórico, a fim de compreender a atual conjuntura mundial e, principalmente, a brasileira. Tendo como horizonte que “A filosofia marxista sustenta que a questão mais importante não é compreender as leis do mundo objetivo e poder, por isso, explicá-lo, mas sim utilizar o conhecimento dessas leis para transformar ativamente o mundo. (Sobre a prática – Mao Tsetung). E mais: “De onde provêm as idéias corretas? Caem do ceú? Não. São inatas dos cérebros? Não. Só podem se originar da prática social; das três classes de prática: a luta pela produção, a luta de classes e as experiências científicas da sociedade. A existência social dos homens determina seus pensamentos. Uma vez dominadas pelas massas, as idéias corretas, característica da classe avançada, se converterão numa forma material para transformar a sociedade e o mundo”. (De onde provêm as idéias corretas? – Mao Tsetung).
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